Os irmãos veteranos Paolo e Vittorio Taviani triunfam na Berlinale com "Cesare Deve Morire". O português "Tabu", de Miguel Gomes, entra também no palmarés com o Prémio Alfred Bauer, mas soube a pouco. Nas curtas-metragens, o Urso de Ouro foi português com a excelente vitória de "Rafa", de João Salaviza.
A cerimónia da entrega dos prémios do Festival de Cinema de Berlim começou de forma excepcional para o cinema português, consagrando com um Urso de Ouro para melhor curta-metragem o filme "Rafa", de João Salaviza.
"Rafa" é a terceira parte de uma trilogia temática iniciada por "Arena" e continuada por "Cerro Negro", que gira em torno das prisões reais e afectivas de uma juventude urbana. Recorde-se que "Arena" conquistou em Cannes uma Palma de Ouro da mesma categoria.
É um prémio notável para o cinema português e para a carreira do jovem realizador que fica agora com duas estatuetas de ouro no bolso. Salaviza não se esqueceu de referir em palco as terríveis condições que o sector atravessa em Portugal com a crise económica e que, até mais ver, paralisaram a produção nacional.
Salaviza notou que partilha este prémio com o Estado português, mas com uma condição: que este último não se esqueça de apoiar o cinema.
"Tabu"
Miguel Gomes a festejar Jens Kalaene/EPA |
Muitas expectativas havia em torno de "Tabu", sobretudo quando se soube em Berlim que o festival pediu à equipa do filme que não abandonasse a capital alemã e que marcasse presença na cerimónia. Um prémio parecia garantido para o filme mais original a concurso e aquele que a crítica internacional mais defendeu - crítica que, de resto, já havia distinguido "Tabu", ontem, com o Prémio Fipresci.
François Ozon, um dos elementos do júri presidido por Mike Leigh, entregou a Miguel Gomes o Prémio Alfred Bauer, que distingue um trabalho de particular inovação artística. Soube a pouco e serviu de fraco consolo, sobretudo para aqueles que, ao longo da semana, acalentavam ver "Tabu" com um Urso de Ouro, ou pelo menos com um Urso de Prata para melhor realização que lhe fizesse inteira justiça.
No palco, Miguel Gomes lembrou a 'família' do cinema português a que pertence, sublinhando que o prémio também é dedicado a cineastas como Manoel de Oliveira, João César Monteiro, Pedro Costa, Fernando Lopes ou Paulo Rocha, artistas que sempre trabalharam de forma livre, independentemente de razões políticas ou económicas.
Ganhou a veterania
Os irmãos Taviani conquistaram o galardão máximo Joerg Carstensen/EPA |
"Cesare Deve Morire" é um trabalho honesto dos irmãos octagenários Paolo e Vittorio Taviani, que encontraram numa prisão de alta segurança de Roma e nos seus reclusos os atores para uma encenação de "Júlio Cesar", de Shakespeare.
Os seis meses de trabalho de preparação com estes amadores em busca da universalidade do texto, num documentário que lhes permite ficcionar e adquirir uma distância em relação à sua própria condição de presos, colocam contudo o enriquecimento da experiência humanista acima de qualquer outra coisa.
"Cesare Deve Morire" não é um filme que se descarte, é mesmo um dos mais sérios que se apresentou numa competição que muito deixou a desejar, mas fica irremediavelmente longe do melhor que os autores de "Padre Padrone" e "A Noite de São Lourenço" deram ao cinema nos anos 70 e 80.
O júri teve opinião diferente e atribuiu a "Cesare Deve Morire" o Urso de Ouro, quando muitos esperavam ver os Taviani homenageados com um prémio à carreira pelo seu longo percurso no cinema europeu. Os irmãos dedicaram o filme e o prémio aos seus atores.
Outras categorias
O Urso de Prata para o Grande Prémio do Júri distinguiu ainda "Just the Wind", co-produção húngaro-germânico-francesa de Bence Fliegauf. O alemão Christian Petzold, com "Barbara", um dos melhores filmes da corrida, venceu o Urso de Prata de Melhor Realização.
Rachel Mwanza venceu o Urso de Prata de Melhor Atriz em "Rebelle" / "War Witch", o filme de guerra que o canadiano Kim Nguyen foi filmar em África. Na categoria masculina, o Urso de Prata foi para as mãos de Mikkel Boe Folsgaard pela sua performance no filme de época "A Royal Affair", de Nikolaj Arcel (Dinamarca), também distinguido com o Urso de Prata para Melhor Argumento (da autoria de Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg).
Para conclusão, ficamos com dois filmes portugueses que trazem para casa três prémios num dos palcos de cinema mais importantes do mundo. Quantos países se podem orgulhar disso?
Retirado do sítio do Expresso.