A campanha para a eleição presidencial de 2011 tem sido enfadonha, o discurso é completamente ao lado porque há candidatos desconhecedores dos poderes presidenciais, dizem que vão fazer isto e aquilo, parecendo ignorar o que a Constituição lhes permite, os candidatos não mobilizam, não apresentam uma agenda positiva para o país, já quase ninguém acredita naqueles que estão há décadas à frente dos destinos de um país à beira mar plantado chamado Portugal, num jogo constante de toca e foge com os partidos políticos. Cavaco foi primeiro-ministro entre 1985 e 1995, esmifrou os milhões dos QCA, o descalabro das contas públicas e o nascimento do "monstro" financeiro começaram na sua maioria absoluta não pensando nas consequências futuras dessa inconsciência ao serviço de interesses momentâneos. Armou-se em vítima e frequentemente referindo as "forças de bloqueio" quando a sua vontade não era feita, foi o autor da célebre frase de autoritarismo "nunca tenho dúvidas e raramente me engano". Não vou esquecer as imagens da Ponte 25 de Abril onde sob a suas ordens a polícia brutalizou cidadãos que aí manifestaram o seu descontentamento contra as portagens.
Cavaco Silva teve um primeiro mandato presidencial com casos infelizes como a invenção do caso das escutas que nunca existiu e ficou demonstrado tratar-se de um plano entre um jornal e o seu assessor de imprensa para atacar o governo. O Estatuto dos Açores assumiu por Belém uma dimensão que nunca devia ter tido. No caso BPN o problema agudiza-se, aquela gigantesca fraude que custou para já 5 mil milhões de euros aos contribuintes foi cometida por seus ministros e secretários de Estado, quando se percebeu as maroscas, defendeu até ao limite Dias Loureiro no Conselho de Estado, foi praticamente necessário os outros conselheiros correrem com aquela ovelha negra. Pior, não teve uma palavra a condenar a gestão criminosa dos seus anteriores colegas de governo no BPN, mas condenou a actual administração e o governo que está a tentar limpar a porcaria ali deixada, levando à saída de milhões em créditos até aí depositados naquele banco. Descobriu-se que ganhou 140% num negócio directo com Oliveira e Costa na compra de umas acções daquele banco fora do mercado bolsista e Cavaco tenta fazer crer que isso é normal e admissível a quem tem responsabilidades políticas.
Entretanto, as hostes de Passos Coelho estão como moscas na sopa, desertas que o FMI aterre em Portugal, têm a seguinte estratégia, o chefe do FMI para a Europa é António Borges (ex. vice-presidente do PSD), vão querer fazer o mesmo de sempre, reduzir salários, cortar nos apoios sociais, despedir funcionários públicos, aumentar a precariedade no trabalho, como fizeram na Grécia e na Irlanda, perguntamos se a situação melhorou nestes países? Não. A Grécia está a ferro e fogo, a Irlanda cortou 10% na despesa pública e despediu 20.000 funcionários. A União Europeia liderada por Durão Barroso, ao serviço dos grandes bancos alemães e do capital, caminha para o abismo, sem futuro nem esperança, com saudade de grandes lideranças europeus. Por cá, Passos Coelho ainda este fim-de-semana deu um sinal que quer o FMI em Portugal, disse que se o fundo vier, dever-se-á demitir o governo, esquecendo que este é legitimamente eleito. Estamos já a ver o filme, Cavaco ganha agora as presidenciais, vem o FMI logo a seguir, parlamento é dissolvido, convocam-se eleições antecipadas, PSD ganha. Criando-se assim artificialmente um presidente, uma maioria e um governo (coligação com o PP de Portas), no fundo o poder absoluto pretendido por Sá Carneiro, ao mesmo tempo que o povo paga as festanças das orgias dos senhores do capital nos mercados desregulados. Errar é humano, mas o Presidente da República não pode errar consecutivamente e não admitir a mais pequena falha, afinal ele também é humano.