A vida num Lar é feita de uma panóplia de emoções, sem destacar aqui a componente espacial que dava para uma tese, dou comigo a pensar, há diversos ciclos no tempo, quando se aproximam fins-de-semana compridos é mau para aqueles velhos que ainda têm discernimento e a cabeça funciona perfeitamente, é mau porquê? É por estas alturas que as famílias, dos sortudos, os vão buscar ao Lar de forma a passar uns dias em família, no Lar apenas ficam os mais maluquinhos, os abandonados, os doentes profundos, os desenraizados ou os outros. Naqueles dias tais, os idosos mentalmente capazes, os outros, passam as passas do Algarve, juntando ao facto de ficarem afastados da família, ainda têm de aturar comportamentos no mínimo estranhos e quase insuportáveis de alguns dos companheiros de morada, os mais tristes entre os tristes, incluindo excêntricos motivados por doenças do foro psíquico e uma saúde física precária.
Passar umas horas nos Lares é simultaneamente um misto de emoções, por um lado, estamos com aqueles familiares que gostamos, por outro pensamos na dificuldade que é viver em semelhante meio; as parvoíces dos mais tontos contrastam com a indignação e seriedade imposta por outros velhos mais rezingões. A vida é feita de opostos, a realidade é complexidade.
Chegar a velho é muito duro, a velhice é cruel, não há honra nem dignidade que estes cidadãos merecem pela vida de esforço e trabalho, pela profissão exercida com competência, pela assistência prestada à família quando ela teve necessidade, pelo precioso contributo para a vida em comunidade. Hoje, custa-me pensar como será daqui a umas décadas, quando também eu for velhinho, se chegar lá, quando já não houver pensões e reformas, quando os sistemas de protecção social estiverem privatizados, quando os tectos estiverem limitados ao máximo na segurança social pública, aí como será? Somos tão pouco solidários para com aqueles que merecem, na minha opinião, às vezes não somos humanos.